Facilmente se constata o quanto é comum adjectivar-se de «táctico» um jogo muito defensivo de uma equipa, onde são evidentes grandes preocupações com determinados jogadores adversários, onde a grande missão colectiva quase se resume a anular o jogo adversário. Em suma, onde a grande preocupaçãp passa muito mais por não sofrer golos do que por marcá-los. Muitas vezes, nem é uma das equipas. São as duas. Um jogo mal jogado de parte a parte que alguém resolve adjectivar de «táctico», no sentido de meter alguma água na fervura... numa espécie de redenção intelectual face àquele que foi um espectáculo deprimente.
Ora, como foi isso que vimos da parte do Chelsea na última quarta-feira europeia em Camp Nou, provavelmente quase todos, senão mesmo todos os que lêem este texto, ouviram da parte de quem comentava o jogo, em directo, afirmações do tipo “o jogo está a ser muito táctico”, porque “estamos a assistir a um Chelsea muito táctico” ou, já em jeito de resumo final nos últimos minutos do encontro, “o Chelsea, no lado táctico, esteve tremendo”. Bem, pelo menos no canal onde vi o jogo, expressões semelhantes ou com o mesmo sentido foram repetidas várias vezes...
Portanto, segundo o entendimento de alguns, uma equipa que, praticamente, apenas jogou «meio jogo», o defensivo, é «muito táctica», tremenda no «lado táctico»... Como se a «táctica» se esgotasse nas coisas do jogar que têm a ver com o defender, com o anular pontos fortes do adversário, com o cumprir a intenção inicial de, acima de tudo, não sofrer golo.
Para mim, o lado táctico tem a ver com o jogo todo e, nessa medida, o primeiro elogio a ser feito teria de ser dirigido à equipa de Guardiola. Para mim, falar de táctica é falar de intenções e de interações e, neste sentido, o jogar do Barça mostrou (e tem vindo a mostrar, por vezes de forma excepcional) maior riqueza e complexidade táctica. Foi, por isso, aos meus olhos, muito mais táctico do que o do Chelsea. Basta ver o modo como a equipa responde, perto e longe da bola, à progressão com bola de Piqué pelo corredor central. Ou o modo como ocupa o espaço a atacar e faz a bola circular. Ou o modo como «acampa» no último terço e mete a bola a correr, rente à relva, na procura do espaço e do momento certo para tentar finalizar. Ou o modo como recusa cair na tentação do pontapé longo ou do cruzamento cego para dentro do «aquário». Ou o modo como responde à perda da posse de bola e, desse modo, poucas vezes é obrigado a «desmontar as tendas». Tudo isto revela critérios. Tudo isto é construção (táctica) do treinador.
Por isso, sim. Também acho que o Barcelona-Chelsea foi um jogo muito táctico. Mas, sobretudo, pelo que nos mostrou o Barça. Sabem como jogou? Então sabem do que falo, sabem o que é a Táctica para mim. Ela é o fio invisível que faz emergir aquilo que reconhecemos como traços marcantes do jogar de uma equipa.
Nuno Amieiro
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