Embora não seja obcecado por preciosismos terminológicos, penso que o uso acertado dos termos tendo em conta aquilo que estes se propõem representar é de grande importância e, no caso do pivô, poderia evitar alguns dos muitos mal entendidos que se verificam em torno de tal função. De facto, não raras vezes, verifica-se um recurso indiferenciado e desajustado dos termos “pivô defensivo”, “pivô ofensivo”, “trinco” e “pivô”.
Ora, por definição, um pivô é “um eixo vertical fixo à volta do qual gira uma peça móvel”. Se olharmos para aquela que é, de momento, a equipa que denota maior qualidade de jogo a nível internacional, o Barcelona, verificamos, tal como é salientado no texto “Um divorcio anunciado”, que se trata da “equipa que melhor espelha esta forma peculiar de atacar subjacente à presença em campo de um pivô”. Guardiola, parecendo evidenciar no banco a mesma lucidez que mostrava em campo, mostra-nos que o desempenho bem sucedido da função de pivô é determinante para a dinâmica colectiva da equipa. E, para mim, somente em equipas onde o pivô é a grande referência faz sentido, de facto, tal designação, visto que é à sua volta que gira uma peça móvel: um determinado jogar.
Embora na definição de pivô este seja sugerido como algo fixo, importa perceber que, no Futebol, esta ideia de fixo não deve ser entendida como um fixo estático. Confuso? Talvez um pouco. Mas passo a explicar. Este “fixo” (para mim o mais posicional de todos os jogadores) tem de ser relativizado, devendo ser entendido como uma referência permanente do jogar da equipa, o tal “farol”. Isto é, tal como um farol, o pivô deve ser uma referência de segurança, alguém que ilumina o jogar da equipa e que, apesar de uma acção e funcionalidade aparentemente intermitente (porque não tem sempre a bola), a sua luz nunca se apaga, está sempre presente, surgindo para dar luz aos companheiros. Caso essa luz não fosse intermitente, estaríamos a deturpar aquela que é, para mim, a essência do Jogo. Isto é, se essa luz brilhasse sempre, seria a expressão de um jogar em que a equipa se subjuga ao jogador e não a expressão de uma equipa onde o pivô, pelo seu potencial, confere equilíbrio, clarividência e qualidade à organização colectiva.
Importa ainda esclarecer que, como tão bem afirma Vítor Frade, o pivô deve ser um “farol” e não um “pirilampo”. Poderá pensar-se que me estou a contradizer, porque afinal um farol, tal como um pirilampo, também emite uma luz intermitente. No entanto, o tipo de intermitência de um é diferente da do outro. Isto é, enquanto que a intermitência do “farol” é regular e, por isso, benéfica para a equipa, a luz intermitente do “pirilampo” é esporádica e irregular, intermitente de um modo indefinido, não podendo, por isso, ser uma referência para a equipa. Mesmo que, por vezes, essa luz possa até ser mais intensa que a de um “farol”. Mas isso não passa de um fogo de vista que nos acaba por iludir. Se eu estiver no mar perdido e vir um farol sei que, quanto mais perto me encontrar deste, mais próximo estou de terra. Contudo, se estiver perdido numa pradaria e vir a luz de um pirilampo e a seguir, irei para onde este quiser. Esta é a grade diferença entre os “faróis” ou “rosas-dos-ventos” e os “pirilampos” ou “cata-ventos” do Futebol! Enquanto os primeiros centram a sua acção num referencial colectivo de jogo, a Cultura de jogo da equipa, os “pirilampos” centram o jogo nas suas acções ou, no caso dos “cata-ventos”, a sua acção no jogo do adversário, acabando ambos por levar a equipa atrás de si, podendo daí, de uma forma linear, advir algumas vantagens, mas também, seguramente, muita instabilidade.
Ainda relativamente à designação de “pivô defensivo” e “pivô ofensivo”, quero realçar que a acção do pivô se centra no jogo, não em atacar, defender ou transitar. O Jogo é “Inteireza Inquebrantável”, logo não faz qualquer sentido este tipo de designações. Pivô é pivô do jogo, do jogo todo e, como tal, as suas funções não se esgotam em defender, atacar ou transitar. Em suma, pivô e ponto final.
Tal como o Nuno Amieiro, também eu me lamento que existam poucas, muito poucas, equipas a jogar neste “comprimento de onda” e poucos, muito poucos, pivôs no futebol de hoje. A prova de que quantidade não é qualidade e de que aquilo que é norma nem sempre interessa. Junto-me a tal murmúrio e acrescento que além deste crime se observam outros no Futebol actual. Por exemplo, ver que jogadores de enorme qualidade e mestres a actuar numa posição e função de tanta especificidade, como a de pivô, são por vezes colocados em posições e funções diferentes. Veja-se o caso de Pirlo. Que desperdício vê-lo jogar regularmente em diferentes posições.
Jorge Maciel
2 comentários:
Como alguns dos textos presentes neste blog são originais do meu blog, logo, propriedade intelectual do seu autor, neste caso eu, gostaria de saber com que direito se acha para proceder como está a proceder? Não pede autorização... Não refere a fonte... Tem consciência de que o que faz é ilegal ou está-se simplemente a borrifar para os direitos de quem trabalha em prol de um projecto que está disponível a todos a custo zero?
Nuno Amieiro
Sr. Nuno Amieiro gostaria desde ja de lhe endereçar as mais sinceras desculpas pela publicação dos textos originais do seu blog. Ja encetei contactos com a pessoa que publica neste blog estes textos no sentido de 1º lhe pedir a respectiva autorização no que for original seu, 2º lhe pedir desculpas pelo que resulta certamente de alguma inexperiencia nossa em termos de publicações, 3º pedir colaboração para divulgar estes temas que são importantes para quem gosta do fenomeno desportivo em geral e do futebol em particular.
Aceite as nossas sinceras desculpas e tentaremos corrigir estas falhas.
Gostaria ainda de lhe solicitar o seu e-mail ou outra forma de contacto para assim podermos encetar as diligencias que aqui referi.
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