quinta-feira, 30 de abril de 2009

Taça Sócios de Mérito: Meias-finais

Meias-Finais: 24/5/09

Mangualde - O. Frades
M. Beira - Campia

segunda-feira, 27 de abril de 2009

Juniores A (Juniores) 2ª Divisão Nacional - Série B - 2008-2009



Resultados 4ª Jornada - Fase de Permanência/Descida 2ª Fase:
Gouveia 2 - CDR 2
União de Coimbra 4 - Arrifanense 0
Sporting de Espinho 4 - Tourizense 2
Estação 2 - Sanjoanense 3

Folgou: União de Lamas

Classificação após 4ª Jornada - Fase de Permanência/Descida 2ª Fase:


Caçar com gato

Caçar com gato
A crónica «Divórcio anunciado» começa por evidenciar que alguém, que também muito prezo, faz apologia do «médio transportador». Penso que, no caso, não se trata de fazer a apologia deste tipo de jogador, mas antes reconhecer que as potencialidades e singularidades de um determinado jogador, Cristián Rodríguez, permitiram à sua equipa, o FC Porto, criar uma subdinâmica alternativa, que passou a ter primazia, por dar respostas diferentes, e por sinal mais eficazes, à forma como a equipa transita para o ataque. Note-se que tal não significa que também eu faça apologia deste tipo de funcionalidade colectiva (que, na maior parte das vezes, tende para desfuncionalidade). Contudo, não me choca que haja equipas que o façam. Parece-me que, mais do que a apologia do «médio transportador», aquilo que o tão prezado comentador sugere é que, face à não existência de um verdadeiro pivô na equipa do FC Porto, esta mostrou-se a alternativa mais viável.
Penso que Fernando, tendo uma evolução interessante, ainda não sabe funcionar como pivô, ainda só é útil e eficaz em meio jogo: quando a equipa perde e não tem bola. Em posse, os seus movimentos de apoio ao portador devem ser melhorados, a criação de diagonais de passe nem sempre é assegurada, muitas vezes esconde-se e, além disso, a sua qualidade de passe e noção de ritmo não lhe permitem dar à equipa uma dinâmica muito abrangente e variável, visto que não consegue acelerar através de passe, não tem facilidade em identificar os timings de entrada da bola, não tem facilidade em variar com qualidade o lado da bola, nem de alternar passe longo e curto (tudo isto ainda mais evidente sobre pressão). Por isto, e talvez por mais algumas coisas, apesar de jogar na posição 6, não consegue ser o elo de ligação que a equipa necessita nos momentos de transição ofensiva, já que não é capaz de fazer chegar a bola à frente de forma rápida, como o treinador parece desejar. Por apenas jogar meio jogo, a alternativa foi encontrar alguém que, face à forma de jogar desejada, pudesse responder de modo mais ajustado ao jogo todo.
A solução passou por Rodríguez, um jogador que, jogando a partir de posições mais adiantadas, assumia outras funções nas quais não exponenciava algumas das suas potencialidades, além de retirar algumas coisas à equipa que, no meu entender, se constituíam como um estorvo. Um exemplo, e uma vez que parte geralmente de posições interiores, é a perda de largura na frente e, por conseguinte, o roubo de espaço a explorar pelo ponta de lança, assim como a sobreposição de zonas a explorar por ambos. Lá está, «quem não tem cão caça com gato»! Trata-se, pois, de uma questão de prioridades, tendo em consideração as potencialidades e necessidades da equipa. Um balanço e uma tarefa que, na verdade, são o cerne da actividade de um treinador.
Face ao exposto, penso que o que o nosso estimado amigo sugere é que o recurso a Cristián Rodríguez, naquele contexto concreto, acaba por ser um mal menor. Se a sua apologia fosse pelo «médio transportador», não faria sentido que essa mesma pessoa identificasse como «erro conceptual» e fonte primeira da generalidades dos bloqueios colectivos da equipa do Sporting a inexistência, por opção do treinador, de um jogador capaz de desempenhar com qualidade as funções de pivô. Uma posição e função que, numa estrutura como a do Sporting, me parece determinante.
Jorge Maciel

Resultados Taça Sócios de Mérito

Quartos-de-final
M. Beira 3-1 Parada
Paivense 2-3 Campia
Lusitano 2-3 Mangualde
O. Frades 2-1 Molelos

Jorge Valdano disse

"Contra a crença popular, os futebolistas são tão generosos no esforço que, por vezes, correm mais do que o jogo pede."
Jorge Valdano

quarta-feira, 22 de abril de 2009

Centros de alto desperdício


Inevitavelmente estamos a entrar numa nova era do Futebol. Contudo, questiono se este será o caminho mais correcto para promover e estimular aquele que, pela simplicidade das suas regras e prática (ainda que, neste último caso, aparente), se tornou num fenómeno único. Confesso não ter grandes dúvidas de que, a manter-se nesta rota, o futuro do Futebol está ameaçado. Com efeito, pela dimensão que alcançou, nele proliferam oportunistas que, dotados muitas das vezes de uma cegueira premeditada, tentam angariar parceiros, a peso de ouro.
Nos últimos meses, quer na imprensa espanhola quer na portuguesa, pudemos ler algumas reportagens relacionadas com a aplicação de meios ditos “científicos” ao treino de futebol. Deste modo, foi notícia a criação e funcionamento de centros de alto rendimento em clubes como o Real Madrid e o SL Benfica. Com nomes pomposos, respectivamente, Real Madrid TEC e LORD (Laboratório de Optimização do Rendimento Desportivo), estes clubes apresentaram aqueles que parecem ser os seus ovos de Colombo. Aliás, tal como há já muito havia feito o AC Milão com o famoso Milanelo que, por sinal, serve de referência a ambos os projectos.
No Real Madrid, o mentor do projecto foi Valter di Salvo, apelidado de Cristiano Ronaldo da preparação física, cujos poderes são absolutos na parte física e no funcionamento do TEC. Já no Benfica, parece ser Bruno Mendes o responsável pelo LORD, procurando que esta estrutura funcione como elo de ligação entre o departamento médico e a equipa técnica encarnada.
Tratam-se, sem dúvida, de projectos que exigem muita dedicação, empenho (ainda que, a meu ver, não no essencial) e trabalho árduo (embora o burro, por muito que trabalhe, nunca venha a ser cavalo) por parte dos colaboradores e, para gáudio de alguns (cada vez mais), muito dinheiro, sobretudo devido a consultadoria “científica” em diferentes domínios. O que não quer dizer que o façam de forma multidisciplinar, muito pelo contrário, uma vez que o raciocínio subjacente a tais projectos apoia-se num entendimento reducionista e espartilhado do futebol.
Em ambos os casos, os objectivos assemelham-se: fazer um seguimento e possuir um registo “detalhado” de cada jogador e dispor de uma “infinidade de dados válidos e fiáveis”, de modo a que as equipas técnicas rentabilizem os respectivos plantéis. Para tal, socorrem-se de uma panóplia de testes físicos a realizar com grande periodicidade, programas individualizados de fortalecimento muscular para os seus “atletas”, podendo no caso do Real Madrid encontrar-se diferentes espaços, relativos a diferentes departamentos. Neste caso, fala-se na sala da velocidade, na sala da condição física geral, na sala de estudos antropométricos, na sala de estudos biomecânicos e também na “habitação da mente”, o espaço que, pelos vistos, mais impacto tem criado e onde, supostamente, se procura analisar os efeitos que a pressão da competição pode exercer sobre os jogadores. Sinceramente, duvido muito que esta habitação (de)mente, mesmo tendo pressupostos muito válidos e comprovados pelas neurociências, consiga reproduzir, de forma aproximada, por exemplo, a pressão sentida por um jogador no Santiago Barnabéu...
Um dos aspectos mais curiosos das reportagens que puderam ser lidas em torno deste tema, relaciona-se com aqueles que são apresentados como resultados imediatos do LORD. A saber: (1) relatório da UEFA refere o Benfica como a equipa com menos lesões na Europa; (2) recuperação de Suazo, de rotura muscular feita em tempo recorde, apenas 18 dias; (3) os “casos flagrantes” de Di Maria e David Luís que têm actualmente e de forma respectiva, mais 8 e 10 quilos cada um.
Vejamos agora o meu ponto de vista: (1) as recentes e frequentes lesões do Benfica contrariam, inequivocamente, tal relatório (além disso, a UEFA não tem necessariamente de tomar conhecimento de todas as lesões dos clubes e as estatísticas, no futebol, raramente são de confiar, sobretudo quando surgem como auxílio a “vendedores de banha da cobra”); (2) David Suazo após essa recuperação “espectacular” voltou a lesionar-se e não jogará mais esta época; (3) o aumento de peso de Di Maria e David Luíz não se tem reflectido numa melhoria da qualidade dos seus desempenhos, mas antes, no caso do último, num aumento da instabilidade articular que lhe tem valido lesões frequentes; Di Maria não tem lesões, o que dada a sua densidade competitiva não causa admiração, mas apresenta uma evolução ao nível da inteligência de jogo, desesperante e a sua relação com o jogo é cada vez pior (talvez aconteça o oposto na sua relação com as máquinas de musculação...).
Mas a aparente incapacidade geral em reconhecer estes factos, que me parecem evidentes e inequívocos, não é, quanto o mim, o ponto mais grave destas cegueiras. Esse relaciona-se com o desejo de aplicar tais projectos à generalidade dos jogadores da formação. No Real Madrid, o desejo é fazer surgir novos “Raúles, ganadores natos com una gran fuerza mental”. E eu questiono: será que aquilo que fez do Raúl o que ele é tem algo a ver com isto?! E, ultimamente, quantos jogadores da “cantera” têm singrado no Real Madrid?! No Benfica, nos bastidores, pelos vistos diz-se que “os títulos também se ganham assim”. O Benfica é a prova cabal disso mesmo!!!
Antes de terminar, não queria deixar de salientar que, quanto a mim, alguns dos meios apresentados, nomeadamente os que se relacionam com a observação de treinos e de jogos, têm de facto potencialidades. Contudo, caso estes instrumentos não sejam devidamente utilizados, parece-me que apenas servirão para atrapalhar. Como por vezes refere Vítor Frade, é como se tivéssemos, em termos abstractos, uma enorme destreza a utilizar os talheres, mas depois, quando vem a sopa, vamos lá com o garfo! O modo como se usa e abusa deste tipo de meios tem subjacente e é revelador daquela que é, para mim, a maior cegueira que afecta o Futebol: a incapacidade de se decifrar a sua essência. E tal repercute-se nos clubes que deles se socorrem. Pegando nos dois casos apresentados, são equipas que não funcionam como tal, evidenciando uma primazia no plano individual em detrimento do colectivo, à semelhança do modo como parece ser perspectivado o treino nestes clubes. São também equipas que desencantam com a bola e com pouca relação com o jogo, o que não é igualmente de admirar, quando a bola ou mais concretamente aquilo que de qualidade se pode fazer com e sem ela (intencionalidade – Táctica) é relegado para segundo plano em favor de um fisicismo abstracto que, pelos vistos, se pode aplicar de forma semelhante em Madrid ou no Seixal (como se fosse sensato usar o mesmo molde em contextos distintos...).
Este tipo de concepções de treino que querem colocar realidades diferentes no mesmo saco cabem, elas sim, todas no mesmo saco. Por isso digo que a norma do treinar, com mais ou menos “embrulho”, continua obcecada na fomentação das suas maiores cegueiras, o fisicismo e a ânsia de formatar “atletas”. Costuma dizer-se que em terra de cegos quem tem olho é rei, mas, como salienta Johan Cruyff, mesmo assim só conseguem ver com um olho. Daí que se desperdice tempo, talento, dinheiro, recursos,...
Jorge Maciel

segunda-feira, 20 de abril de 2009

Pensamento da Semana


O lado formal da Periodização Táctica é passível de ser captado por muita gente, mas não é aí que reside o fundamental. O fundamental reside na operacionalização do formal, isto é, a concretização. É aí que o treinador, aquele que gere, tem de ser importante todos os dias. Ele tem de ser o indivíduo que aproxima tudo aquilo que é favorável ao crescimento qualitativo do processo, no sentido de o futuro a que aspira ser qualquer coisa que continue a fazer sentido.
Vítor Frade (2003)

27ª Jornada



Divisão de Honra:

Resende 0-1 Campia
Lamego 1-0 Lamelas
Sampedrense 3-2 Canas Senhorim
Pesqueira 1-2 Molelos
Santacombadense 4-0 Moimenta da Beira
Mangualde 2-0 Paivense
Tarouquense 1-1 Santar
O. Frades 0-1 Parada

quinta-feira, 16 de abril de 2009

Taça Sócios de Mérito: 26/4 às 16 H

26/4/09:16:00

M. Beira - Parada
Paivense - Campia
Lusitano - Mangualde
O. Frades - Molelos

Uma questão de lógica de jogo com comportamentos coerentes na sua globalidade


Em resposta à solicitação do autor deste espaço, disponibilizei-me para discutir alguns pormenores de jogo relacionados com a crónica «Divórcio anunciado».
A questão do «pivô» e do «médio transportador de bola» é uma discussão interessante, fundamentalmente, ao nível dos conceitos, dos princípios e da lógica subjacente à equipa como um todo.
Parece-me demasiado fácil e sedutor usar conceitos que consideramos mais inteligentes ou evoluídos na tentativa de nos mostrarmos mais sabedores ou conhecedores sobre determinado assunto, mas devemos ter sempre o cuidado de perceber quais as suas origens e se tais conceitos são, ou não, adequados para o tema que estamos a discutir.
Para mim, o conceito de pivô está intimamente ligado a uma organização ofensiva em posse e circulação, com uma dinâmica interactiva de ocupação dos espaços com e sem bola. O que se pretende é que a equipa tenha zonas de passe perto e longe da bola, isto é, um jogo posicional sincronizado em que os jogadores funcionam uns em função dos outros, tentando encontrar o espaço e o momento adequados para fazer a bola penetrar ou finalizar com golo. Neste contexto, o pivô aparece como uma das figuras centrais, pois ocupa uma posição favorável, por excelência, para fazer a bola circular. Ele é um elemento organizador do jogo posicional, reaferindo espaços e equilíbrios, controlando timings de aceleração e temporização do jogo. A partir da sua zona, cria jogo pelo corredor central, o que permite à sua equipa jogar no interior do adversário. No fundo, numa lógica de controlo do jogo em posse de bola, num padrão por excelência de posse e circulação que procura os espaços do terreno de jogo favoráveis para criar os momentos óptimos para finalizar com golo, podemos e devemos usar o conceito de pivô para o jogador com a função acima descrita. Fora deste contexto, parece-me atrevido atribuir um conceito tão nobre, complexo e evoluído a um jogador!
Quanto à ideia de «médio transportador de bola», facilmente se interpreta que um médio, avançado ou defesa que seja «transportador de bola» está desadequado ou é mesmo contraditório a um padrão de jogo de posse e circulação. Num jogo circulado e apoiado, com jogadores perto e longe da bola, com ocupação racional do terreno de jogo e com a ambição de encontrar os melhores espaços para finalizar, torna-se desprovido de sentido algum jogador «transportar a bola». Porquê? Porque tal não é necessário!!! Porque é contrário ao padrão global existente.
No entanto, devemos ter o cuidado de perceber as diferenças entre «transportar a bola» e «penetrar com bola». A primeira situação implica deslocação de um objecto, enquanto a segunda implica a identificação de um espaço óptimo que deve ser ocupado. A primeira acontece várias vezes em jogos de transição onde os jogadores estão sozinhos ou desapoiados, com raras zonas de passe reais e onde existe uma vertigem pela aceleração – demasiadas vezes sem critério, porque se acredita que, quanto mais rápido o deslocamento, mais perto se está do golo. A segunda funciona como uma excepção. É uma estratégia de ocupação de espaços que tem subjacente um princípio e uma intenção e onde facilmente se observa uma sub-dinâmica de jogadores e comportamentos para se beneficiar de tal situação. No fundo, a primeira reflecte uma lógica individual, de quem transporta, enquanto a segunda reflecte uma lógica global, um padrão racional de circulação assente num jogo posicional de excepção!
José T.

terça-feira, 14 de abril de 2009

CDR Moimenta da Beira 3 - Sp. Lamego 0

Disputava-se a 4ª eliminatória da Taça Socios de Merito da AF de Viseu, colocando frente a frente dois Clubes, eternos rivais, pela proximidade, distintos pela sua história, mas rica em resultados desportivos por parte do Sp. de Lamego, mas igualmente nobre a do CDR pela sua acção desportiva, mas também social e ao mesmo tempo, dois clubes que ao longo dos anos tem tido uma proximidade muito grande, isto apesar das rivalidades, se não vejam a quantidade de jogadores oriundos daquele clube que ao longo dos anos representaram, e bem!, o CDR.
Mas em relação ao jogo diria que a superioridade desta equipa do CDR face a este Sp. de Lamego (que viverá uma das piores fases da sua existencia) foi sentida desde o primeiro ao ultimo minuto de jogo. Em momento algum o Sp. de Lamego pos em causa o resultado ou demonstrou ter argumentos para contrariar o CDR.
Desde o apito inicial que o CDR criou e desperdiçou inumeras oportunidades de golo. Com um futebol "mais trabalhado", fruto da valia técnica de todos os seus executantes, o CDR desenvolvia jogadas, quer pelo centro, quer pelas alas, que punham em constante sobressalto a baliza do Lamego.
Não tendo feito um jogo, como por exemplo aquele que fizeram contra o Ol. de Frades, onde o desenvolvimento rápido e fluido do jogo e o envolvimento pró-activo de todos os jogadores nas jogadas fazia com que o futebol do CDR fosse um autentico carrocel, culminando sempre cada volta, num perigo junto da baliza adversária, o CDR desta feita fez um jogo menos conseguido, também por culpa do esquema mais fechado montado pelo Victor, mas, ainda assim um jogo agradavel, com a construção gradual de um resultado muito positivo e que permite, a par da boa classificação no campeonato, deixar os moimentenses e socios do CDR contentes e orgulhosos na sua equipa.
Não que querendo destacar individualidades porque penso que todos os jogadores do CDR tem desenvolvido um escelente trabalho e formam, neste momento, talvez, a melhor equipa da divisão de honra (pelo que tenho visto!), gostaria só de deixar uma pequena "homenagem" ao Parma que continua a fazer o que todos esperam de um ponta de lança ... golos!!!
Sei que ele nem sempre é compreendido e apoiado por alguns adeptos, como deveria e merece ser, mas esta referência serve tão só para o Parma sentir que quem gosta verdadeiramente do futebol e neste particular do CDR, que goleadores com esta regularidade e qualidade vão sendo escassos ... e neste momento é só o melhor marcador da AF de Viseu com 22 golos!!!

segunda-feira, 13 de abril de 2009

Divórcio anúnciado


Um amigo que escreve regularmente sobre futebol e que muito prezo tem vindo a fazer a apologia do «médio transportador de bola». O exemplo mais recente é o caso do Cristián Rodríguez no FC Porto. Segundo ele, uma das grandes evoluções tácticas da equipa de Jesualdo Ferreira desta época prende-se, precisamente, com o recuo de Rodríguez no terreno passando este a ser um quarto elemento no meio-campo portista que, quando a equipa ganha a posse de bola, se transforma no tal «médio transportador de bola». Apesar desta lógica não encaixar na minha concepção de jogo (de qualidade), nem na minha concepção de qualquer posição do meio-campo, não me custa aceitar que, em determinadas equipas, dentro de um padrão de jogo concreto, essa posição e função – essa subdinâmica – possa ser útil. Já me custaria aceitar se afirmasse que, para se jogar em transições ofensivas rápidas, como tende a ser o registo deste FC Porto, tal sub-dinâmica é necessária. Mas não é o caso, nem é sobre isso que eu quero hoje aqui falar.
Para chegar onde pretendo preciso de aqui trazer outra ideia que esse meu amigo defende e com a qual eu também me identifico. Pelo menos a este nível formal de abstracção, ela já parece caber no saco do meu jogar bem. A ideia de que a posição 6 é crítica para se jogar bom futebol, de que esta deve ser vista como um «farol». A posição de «pivô».
Ora, onde está o problema? Bem, o que me faz verdadeiramente confusão é o fazer-se, simultaneamente, apologia das duas posições/funções. O «médio transportador de bola» não casa com o «pivô», é como misturar alhos com bogalhos... A lógica do «médio transportador de bola» leva-nos para um jogar mais transportado que circulado, mais assente no deslocamento dos jogadores. Um jogar tendencialmente menos colectivo, que tende a olhar mais para a profundidade do que para a largura, que facilmente cai no aumento da distância entre linhas. Um jogar que, não raras vezes, cai na «vertigem do jogar rápido». A lógica do «pivô» leva-nos para... o oposto de tudo isto. Um jogar muito mais apoiado e circulado, assente num bom jogo posicional de todos os jogadores, onde o «pivô» é o epicentro de toda a dinâmica ofensiva colectiva, o tal «farol». Um jogar onde quem corre é, fundamentalmente, a bola, de pé para pé, ora curto, ora longo, onde se procura uma circulação criteriosa à largura para que a profundidade seja ganha com naturalidade e qualidade.
Não tenho dúvidas, tal casamento resultará em divórcio. A presença do «médio transportador de bola» tende a fazer desaparecer do jogo o «pivô». A posição 6 continua lá, mas aquela função concreta desvanece-se. O «farol» apaga-se. E a dinâmica colectiva transfigura-se... A tal ponto que, depois, ouvimos dizer: «Aquele jogador passou ao lado do jogo!». Será verdade? Ou terá sido o jogo a passar ao lado dele?...
E o facto de falar em «pivô» e não em «pivô defensivo» não é esquecimento nem gralha no texto. Porque se for defensivo, já não é «pivô». Poderá ser médio defensivo ou outra coisa qualquer, mas nunca «pivô». Porque a concepção de base é outra. O «pivô» é a posição nobre de um jogar todo ele perspectivado em função de uma organização ofensiva muito especial e, para grande pena minha, em vias de extinção. Há poucas, muito poucas, equipas a jogar assim. Há poucos, muito poucos, «pivôs» no futebol actual.
Uma curiosidade para concluir: a equipa que hoje melhor espelha esta forma peculiar de atacar subjacente à presença em campo de um «pivô» é o Barcelona, cujo treinador foi, talvez, o melhor «pivô» de todos os tempos, Guardiola. Será coincidência?...

Nuno Amieiro

Pensamento da Semana

Antigamente, sobravam tempo, espaço e oportunidades para as crianças jogarem longe das regras dos adultos. Nesses espaços não havia limite de toques ou caminhos proibidos. Muito menos caminhos obrigatórios.
Paulo Sousa

quinta-feira, 9 de abril de 2009

Taça Sócios de Mérito: 10/4 às 16 H

Taça Sócios de Mérito: 10/4 às 16 H
4ª Eliminatória
Parada - Tarouquense
Molelos - C. Senhorim
F. Aves - Campia (11/4)
M. Beira - Lamego
Paivense - Ceireiros
C. Sal - Lusitano
O. Frades - Mortágua(hoje às 21 H)
Sampedrense - Mangualde

terça-feira, 7 de abril de 2009

Pensamento da Semana

“Every trainer talks about movement, about running a lot. I say don’t run so much. Football is a game you play with your brains. You have to be in the right place at the right moment, not too early, not too late.”
Johan Cruyff

Tradução

“Todos os treinadores falam de movimento, de correr muito. Eu digo não corram tanto. O futebol é um jogo que se joga com o cérebro. Tens de estar no local certo no momento certo, nem antes nem depois.”
Johan Cruyff

segunda-feira, 6 de abril de 2009

CDR 0 - Mangualde 0

Distritais da A.F. Viseu

Divisão de Honra:
26ª Jornada
Campia - Lamego 3-0
Lamelas - Sampedrense 2-2
Canas Senhorim - Pesqueira 5-0
Molelos - Santacombadense 1-0
Moimenta da Beira - Mangualde 0-0
Paivense - Tarouquense 3-1
Santar - O. Frades 2-1
Parada - Resende 0-0

quinta-feira, 2 de abril de 2009

À CONVERSA COM VÍTOR FRADE

Segunda-feira, 30 de Março de 2009

Mexer ou não mexer, eis a questão!

Nuno Amieiro (NA): Professor, até que ponto faz sentido pensar-se em alterar a «configuração física» a um jogador para que este venha a ser algo mais do que aquilo que é? Isto é, no sentido de, por exemplo, o «engrossar» para ser mais resistente ao choque ou para ir ao encontro de um qualquer estereótipo corporal de defesa, médio ou avançado?
Vítor Frade (VF): Antes de mais, é necessário reflectir sobre a designação que está a utilizar, a expressão «configuração física». Por exemplo, diz-se muitas vezes o seguinte: “Aquele jogador não vai jogar porque tem um problema físico”. Será que quem diz isto está a querer dizer que lhe falta resistência ou qualquer outra coisa relacionada com o físico? Não. Por isso, para mim, o que o jogador tem é um problema clínico. É preciso algum cuidado com a terminologia para que o entendimento das coisas seja um determinado. Em relação à sua pergunta, parece-me mais ajustado falar em morfotipo do jogador e, no meu entender, pensar-se em o alterar é uma asneira de todo o tamanho. As exigências que regularmente o indivíduo vai enfrentando vão tornando-o mais resistente e mais capaz e não devemos querer ir mais longe do que isso, pois na tentativa de ganhar determinadas coisas, iremos perder uma série de outras coisas.
Não me custa nada reconhecer que, para certas posições e funções, o morfotipo e a estatura são relevantes, em termos de média. Mas, por exemplo, no caso do ponta-de-lança até menos do que no caso do defesa central. E mesmo aí todos nós conhecemos defesas centrais de top que são relativamente baixos, onde aquilo que os identifica como característico tem normalmente pouco a ver com o lado externo do morfotipo, aquilo que designou por «configuração física», e muito mais com a articulação e os timings de utilização de uma série de outras coisas. Veja, por exemplo, o caso do Liedson... Ele é «felino» e para ser «felino» e eficaz, tem de ser inteligente, tem de ser capaz de decifrar, de se antecipar... Mas vou-lhe dar outro exemplo. O Pepe tem uma entrevista recente, num jornal espanhol, onde diz que presentemente também está a fazer musculação para o trem superior, para o tronco, porque, refere-o ele, joga-se muito disputadamente, os pontas-de-lança são grandalhões, o tipo de jogo proporciona muitas disputas e, nesse sentido, ele sente a necessidade de ser espadaúdo para poder enfrentar essas circunstâncias. Mas também diz que se sente à nora quando lhe aparece um ponta-de-lança pequenino...
NA: O professor está a querer dizer que ele pode vir a perder algo do Pepe que conhecíamos?
VF: Ele já está a dizer que está a perder!!!... Porque, quando ele não era espadaúdo ou não ia para o ginásio com esse fim, ele foi capaz de ser vendido por 30 milhões de euros e penso nunca o ter ouvido afirmar que os jogadores pequeninos lhe davam problemas... Não sei... Mas, ao que parece, ele agora está a senti-las. Porque, e isto é que é importante que se perceba, a acentuação de qualquer uma que seja considerada como variável tem repercussões no peso que as outras tinham no padrão de relação que existia. E, pelo menos ao nível da formação, esta lógica de pensamento é um absurdo, embora eu também esteja em desacordo com ela no que se refere ao rendimento superior... Era admitir que seria vantajoso «engrossar» o Liedson... O Liedson nunca mais seria o Liedson! E, provavelmente, aquilo que o fez ser Liedson foi o facto de ele não ter esse arcaboiço.
Eu conheci o Anderson e, para mim, ele era potencialmente um dos melhores jogadores do mundo como médio interior. Eu estava convencido de que, a continuar na mesma posição e nas mesmas funções, ele seria do melhor. Precisamente na posição onde hoje é mais difícil de encontrar jogadores daquele tipo. Foi para o Manchester e passou a jogar mais atrás... Disseram logo que tinha de ganhar não sei o quê... E dizem agora que ganhou isto e aquilo... Ganhou o quê? A maioria das vezes eu nem o vejo a jogar. E o que perdeu sei eu muito bem. Dizem que ganhou capacidade defensiva, que está outro jogador e mais não sei o quê. Pois está! Está outro, sem aquilo que tinha e que, do meu ponto de vista, é o mais difícil de ter: capacidade de desequilibar no último terço, capacidade de deixar pronto no último terço, etc, etc... Ora, tudo isto tem origem em dois pontos de conhecimento: o conhecimento de jogo que se tem, ou melhor, que não se tem; e o conhecimento retrógrado, miúpe e mecânico que se tem do que é o Indivíduo. É necessário saber um pouco das duas coisas...
NA: Deixe-me pegar agora no exemplo do Cristiano Ronaldo... A generalidade das pessoas está claramente convencida de que o que ele é hoje enquanto jogador se deve em grande parte ao trabalho de ginásio que desenvolveu e provavelmente continua a desenvolver...
VF: Isso rebate-se com facilidade. O Cristiano tem um morfotipo e joga numa posição que pode permitir que o lado atlético seja um acrescento. Mas eu penso que a juventude dele e o facto de estar a jogar em Inglaterra ainda não o fez dar-se conta do desperdício que é o não uso tão regular da capacidade de drible, de simulação e de engano que ele tinha. E o jogo assente neste padrão atlético em que ele se está a viciar e do qual beneficiam os abdominais e o porte que ele tem, tirou-lhe algo que ele também tinha potencialmente, que era aquele poder de «ginga», que é mais o registo, por exemplo, do Messi. E eu pergunto, alguém no seu perfeito juízo é capaz de dizer que o Cristiano Ronaldo é melhor do que o Messi? Na melhor das hipóteses dirão que um é tão bom quanto o outro. E o Messi é exactamente o oposto em termos de morfotipo: é pequeno, enfezado,... E é doente, pois tem problemas metabólicos.
Acho que o que é fundamental é que o jogador tenha a capacidade de resistir e de ter força... Mas é importante que se perceba o que eu quero dizer com isto, pois não tem nada a ver com o entendimento comum... Repare na conversa que há pouco estávamos a ter sobre o Fábio Coentrão. O Coentrão, sendo um indivíduo débil, frágil, numa disputa de bola contra dois jogadores matulões do FC Porto, o Cissokho e o Rolando, conseguiu, com uma «ginga», sentar os dois e ir embora com a bola... Isto, para mim, é que é ter força. Ter capacidade de arrancar, travar, voltar a arrancar mas pelo lado contrário...

NA: O Fábio Coentrão é claramente o tipo de jogador que, normalmente, sente na pele este modo mutilador de pensar... «Ele é bom jogador, mas falta-lhe...»...

VF: Porque a lógica que está implantada é a lógica da burrice. A cada passo vemos e ouvimos apregoar uma série de slogans que vão ao encontro desse tipo de raciocínio. Até na escolha dos miúdos ao nível da formação se ouve, sistematicamente, coisas como «Eh pá, é habilidoso, mas é pequenino». É um absurdo. Por exemplo, o Liedson, não sendo um fora-de-série, ao nosso nível é um jogador fantástico e é pequenino, como o era o Romário e uma série de outros bons jogadores.
Mas o ridículo desta questão é fácil de constatar. Se nós formos perguntar aos indivíduos que fazem a apologia do físico, da altura, do corpo «engrossado» qual é o melhor jogador do Benfica, quase todos eles respondem que é o Aimar. Se perguntarmos em relação ao Sporting, quase todos eles dizem que é o Liedson e o João Moutinho. Se perguntarmos em relação ao FC Porto, quase todos eles referem o Lucho, que por acaso é alto, mas não é de cabeça que ele sobressai e é adelgaçado. Se perguntarmos em relação ao Barcelona, quase todos eles apontam o Messi, o Xavi e o Iniesta... Da mesma maneira que quando perguntaram a um ex-director técnico nacional do atletismo o que ele pensava do Usain Bolt, o campeão olímplico dos 100 metros, ele respondeu que era «um diamante em bruto». Um indivíduo que acaba de bater todos os recordes é «em bruto»? Está implícito na resposta dele que, quando o Usain Bolt fizer musculação e uma série de outras coisas, vai voar como os crocodilos... Mas, espere lá, os crocodilos não precisam de voar para serem crocodilos!... O que se deveria fazer era parar e pensar que a seguir ao Carl Lewis, todo o morfotipo que surgiu era de indivíduos estilo Caterpillar e que, agora, aparece este atleta com um morfotipo longilíneo a bater todos os recordes. Mas é o próprio Usain Bolt quem diz que não faz musculação, que treina na relva e que as únicas cargas que utiliza é ao fazer competições de 60 metros com um colega a puxar um pneu. E diz que dança muito por ser da terra do reggae!
Quem souber um bocadinho sobre aprendizagem motora, sobre coordenação motora, sobre timing de manifestação muscular e de coordenação muscular, etc, acaba por se afastar dessa forma de pensar que é mutiladora. Mas até aqui na faculdade há professores que dizem que o músculo é cego. Cegos são eles, porque o músculo é, manifestamente, muito mais, um orgão sensitivo do que um orgão gerador de potência. E, se calhar, ao mesmo tempo que dizem que o músculo é cego, defendem que é importante a proprioceptividade. Ou seja, não sabem o que estão a dizer. Porque a proprioceptividade é precisamente o que faz do músculo fundamentalmente um órgão sensitivo. Portanto, uma série de mecanoreceptores que se alteram para captarem, digamos assim, a evolução do corpo no tempo e no espaço. Ora, o futebol de qualidade, para qualquer posição, apresenta uma diversidade de agilidade e mobilidade que... Eu costumo dizer que a ignorância é atrevida p’ra caraças...
NA: Um dos argumentos de que eu me costumo servir para tentar evidenciar o quanto pode ser prejudicial querer «transformar» um jogador tem a ver com algo para o qual o professor alerta frequentemente... Eu, enquanto elemento da minha espécie ainda não estou totalmemente adaptado ao bipedismo e, portanto, muito menos preparado para jogar futebol. Ou seja, eu tenho uma história, para o caso «motora», que, em parte, partilho com a minha espécie e que, em parte, é pessoal, fruto das minhas vivências. Se pensar em ir «engrossar» ou tentar ganhar algo que, em termos corporais, não tenho, vou estar a interferir com essa história, que é património meu. Com isso, provavelmente, vou estar a hipotecar muito desse «património coordenativo» que o envolvimento a que estive sujeito durante anos me levou a adquirir «contra-natura» hominídea!
VF: Eu já não quis ir por aí, porque esse caminho levar-nos-ia a 3 ou 4 horas de conversa... Mas, repare, é também preciso perceber que à volta de tudo isto há um jogo de interesses muito grande. Por exemplo, qual é uma das indústrias mais ricas do mundo? É a indústria do armamento. E alguém fabrica o que quer que seja para não vender? Com certeza que se têm de criar condições para que as coisas se usem... E depois, no caso do futebol, a publicidade também assume um papel muito importante, pois vem dizer que uma série de coisas são indispensáveis, que é necessário fazer isto e aquilo para que se marque dois golos com um pontapé só, e servem-se de alguns exemplos que facilmente caem no absolutismo pela falta de conhecimento que as pessoas têm acerca do jogo e acerca do Indivíduo.
NA: Para acabar, uma pergunta muito directa: porque é que o facto de eu ir fazer musculação vai alterar aquela que é a minha história de relação com o corpo?
VF: De um modo muito simples, porque altera a relação do corpo com o corpo, ou seja,... Há dois tipos de timing. O timing coordenativo dos músculos entre si, que é a co-contractividade, portanto, vão existir cadeias que passam a degladiar-se, que se passam a estorvar umas às outras. Porque é uma coordenação que se coloca contrária à fluidez que sugere e solicita a espontaneidade do jogo de futebol. Para além disso, há outro tipo de timing, que tem a ver com o ajustamento muscular à alteração sistemática regular que o envolvimento coloca. Ao fazer musculação vai estar a bulir com isso, vai estar a enganar o sistema nervoso. Portanto, vai obstruir o leque de possibilidades de manifestação que o corpo tinha a jogar futebol. E se o fizer quando em desenvolvimento vai inclusivamente bloquear o crescimento, por exemplo, dos ossos e de outras estruturas. Vai hipertrofiar uma zona que é muscular quando nós sabemos que os tendões não se desenvolvem da mesma forma... Porque não é natural! É como aqueles indivíduos que tinham uns carrinhos pequeninos e lhes rebaixavam a colaça, colocavam umas jantes largas, uma suspensão mais dura, etc, para se armarem em corredores... Só que depois partiam os carros por outro lado...